“Vamos embora? Tô falando sério. Vamos?” E tudo o que ela queria dizer era SIM, sem olhar para trás…

“Vamos embora. Tô falando sério. Vamos? A gente cria um canal no YouTube e vai contando nossa aventura. Isso dá dinheiro. Dá pra comer hambúrguer… Todo dia, rs”

Ele tinha um jeito reto e direto de colocar os pensamentos e fazer parecer que as coisas eram simplesmente simples. Talvez fossem mesmo. E para esse talvez ele diria: “Talvez não cara, tô falando que é”.

Ela tinha um jeito confuso e complexo de colocar palavras demais no lugar das ações e desculpas demais no lugar das decisões. Queria dizer que não era porque se importava com o que as pessoas pensam, mas no fundo, talvez fosse apenas disso que se tratasse. Somente isso. Porque do contrário, que se dane tudo, ela poderia ser aquela que se perdeu por aí e que ele havia encontrado.

Ele dizia que as palavras dela eram uma desculpa para maquiar seu mundo. Que ela arrumava desculpas demais e que a culpa era dela que ficava se fazendo de vítima.

Ela achava que ele não conseguia enxergar as coisas dentro dela, que era fácil para ele falar porque não vivia a vida dela.

Ele concordava. Se desculpava por colocar seus pensamentos de forma tão sincera, mas encerrava com um “é assim que eu penso cara”, no melhor estilo “conviva com isso ou suma”.

Ela sorria. No final de tudo o que ele fazia mesmo era colocá-la para pensar e não havia como não pensar que ele tinha razão em tudo aquilo. Que talvez ele é quem estivesse certo em ser livre assim, desprendido. Aí ouvia ele dizendo: “Talvez não cara, tô te falando que é”. Mas ela tinha tantos medos e cicatrizes e acumulava tantas decepções que ela mesma se permitiu viver, que criou um escudo entre eles dois.

Ele amava linda e intensamente. Tantas mulheres buscavam no mundo um amor assim para viver e ele dizia para ela: “Hey… Amo-T”. “Adoro você”. “Amo VC maluka”. “Você precisava estar aqui comigo agora pra ver isso”.

Ela sorria com os lábios e com o coração toda vez que ouvia isso. Uma parte dela queria que esse sentimento crescesse e seguisse para a vida. Outra parte sentia apenas medo. Desacreditou que esse tipo de amor exista de fato, ou que dure. No fundo ela fugia de um fim que dava como certo. Não queria precisar do amor de alguém que um dia iria deixá-la. Talvez isso o irritasse, porque ele dizia “pare de me comparar com as suas experiências anteriores”. Ela não queria fazer isso, mas fazia, era bem verdade. Porque tudo o que sabia sentir era medo. E tinha medo que seu medo colocasse tudo a perder.

“Pow cara, eu te procurei a vida toda”.
“Vamos? Tô falando sério. Vamos?”

E tudo o que ela queria dizer era SIM. Mas tinha medo. E talvez ele nem imaginasse que dentro dela ela já havia começado aquela viagem com ele… Só precisava terminar de arrumar a mala. E não se tratava de sair pelo mundo numa aventura cinematográfica, mas faria isso com prazer. Se tratava de sair do seu mundo, partir dali para onde tivesse paz. Ele lhe dava essa paz. E ela sentia medo de que o amor e paz dependessem dele. Mas viajava com ele em cada letra de música, em cada nascer e pôr-do-sol, porque ele lhe dava essa paz. E ela sentia medo… Porque ele mostrava pra ela que ainda existia tudo aquilo de que ela desacreditou. E a resgatava todos os dias um pouquinho dizendo que não se importava se nunca a tivesse, mas amava.

“Vamos embora? Tô falando sério. Vamos?”
E tudo o que ela queria dizer era SIM, sem olhar para trás.

Luciana Marques

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