Tua mãe já sabe que é minha sogra?

A gente pode morar em uma casa simples na campanha. Compramos uma vaca, algumas ovelhinhas e eu te deixo escolher o nome do nosso cachorro.

Eu posso fazer mil poemas se tu prometer me amar por mil e uma noites. A gente joga o telefone no rio, vendemos o computador e estabelecemos a conexão entre a nossa cumplicidade e o som da natureza me dizendo o quanto a vida se torna uma graça contigo. Tédio ao teu lado é o analfabetismo da monotonia diante das atipicidades.

Há sete meses, o médico me diagnosticou com “carencite” crônica. Não tem cura. Ele disse que ninguém morre pela própria doença, mas pode-se morrer pelas causas que ela traz: saudade contínua, distância prolongada, ausência do teu cheiro no meu cangote…

O único remédio receitado para as complicações da patologia é minha mente saciar o acúmulo de comorbidades no palpável, como ter minhas mãos cegas estudando o teu corpo em braile; tuas gargalhadas ecoando nas madrugadas vazias; a visualização daquela camiseta azul da Argentina, manchada de mostarda; tua paixão por chiclete de damasco; teu chimarrão virado; teu cheiro decorado pelo meu olfato; tuas panquecas verdes com gosto de amor…

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Tudo isso faz com que a vida me chame mais tarde para voltar pra casa.

Depois que te conheci, passei a ser o algarismo que vem depois do um, a arquitetar tudo para dois e aprendi a dividir os mesmos furos do chuveiro. Eu não me importo de voltar a escrever à mão, lavar roupas no tanque, cozinhar no fogão à lenha e pintar as janelas com a cor do céu. Juro mesmo. Largaria a cidade grande só pra gritar teu nome no portal da nossa casa de campo, te sequestrar umas bitocas até ter a recompensa do sequestro sentindo o peso do teu corpo sobre o meu, da tua boca falando minha língua, dos teus gemidos sem oxigênio implorando o meu oxigênio.

A gente fica lá, no meio do nada, ouvindo as rãs comporem a canção da noite e os vagalumes iluminando a escuridão. Eu troco toda minha coleção de bolitas, só pra ter o teu sobrenome no meu.

eoh.com.br

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