A triste geração que acha lindo ostentar o luxo, mas critica quem expõe o amor

Lindo de ver. A foto bem tirada, que junta praia e bebida cara. Se tudo isso vier junto a um corpo dito padrão, melhor. Perfeito. O prato de comida e a localização só pra contar que o restaurante é de luxo. O sorriso e a pose. A solidão compartilhada com dezenas ou centenas de seguidores e comentários vindo de quem não pode. O sacudir agora virou plateia.

Do outro lado, comentários. “Viu só, fulano? Está em tal lugar!” Rico! Rica! “Phyno!”

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A festa, no camarote prime vip é anunciada com o conceito de um lugar de ‘gente bonita’ e ‘selecionada’. Ao lado das fotos repletas de cenários exóticos, de maças mordidas em frente ao espelho, de exibições teatrais e milimetricamente pensadas, uma mensagem diz que “a humildade é privilégio dos bons”.

O autor deve ser desconhecido. E se estiver vivo, morrerá tentando entender qual o contexto de sua frase por ali.

Tem gente que posta o combo de gelo, vodka e whisky. Mas, só se o nome estampado na garrafa valer a foto com aquela legenda bem nojenta e clichê. Abaixo, os comentários são variados. A comprovação da imbecilidade humana. Um atestado.

A solidão de quem vive para mostrar que tem – até quando não tem. Regados a uma trilha sonora que envolve ritmo dançante e ensina como sofrer por amor com uma conta bancária generosa.

Entre uma postagem e outra. Uma legenda nojenta e outra. Entre a exaustão de fotos e fatos que tenha preço, o desapego e o desassossego.

O perfil que não é mais de alguém. Mas, de algo que tem preço.

Alguém que diz que não se deve compartilhar felicidade pra não criar inveja.

Mas, o que vive (se tiver preço e for caro), posta. Pra fazer inveja. Pra dizer que vai bem.

Que gente neurótica. Contraditória.

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Amor? Vixe! Pra que exibir nas redes sociais? Não precisa se declarar toda hora!

O amor não tem rótulo. Não tem preço.  Você encontra o amor em qualquer lugar. Seja no hotel caro na beira da praia, ou só na beira da praia, mesmo. Debaixo da sombra de um coqueiro. O amor come da farofa de calabresa no posto de gasolina. Bebe qualquer coisa, se for de verdade. A aliança de ouro, pro amor, pode ser feita até de couro, se tiver sinceridade.

O amor não vale a ostentação dessa geração. Chamam de clichê. Tem gente que jura que amar é brega. Ultrapassado. Que debocha de quem ama. Crítica quem vive de verdade no meio dessa imensidão de personagens caros. Enquanto se prepara pra mais uma balada prime vip ultra diferenciada com ‘gente bonita’.

E que pode faltar tudo. Inclusive amor.
Só não pode deixar de ter a ‘surra de fotos’.

Edgard Abbehusen 

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