Tem uma grande diferença entre desistir e perceber que não vale a pena

Já não tenho o coração tão quente como antes, já não sorrio das mesmas coisas e a minha paciência às vezes mistura-se com o meu desinteresse.

Já não sou tão meiga, nem tão positiva.

Já não procuro um contra-argumento em brigas sem sentido, nem me preocupo tanto com o que acham a partir daí.

Já não grito para me fazer ouvir, nem choro por não ser ouvida.

Já não me apego tanto, mas também já não consigo ficar só.

Já não procuro desmentir uma mentira, simplesmente a ouço e guardo dentro de mim.

Já não sou muito do que fui outrora, porque os azares da vida roubaram muito de mim.

E quando dei por mim, eu já estava mais perto do gelo, do que da fogueira.

O gelo que naquele momento me pareceu tão mais confortável, tão mais acolhedor e tão sincero. E foi lá que decidi ficar, arrefecendo em mim, muito mais do que eu desejaria.

Talvez eu tenha perdido muito do que eu era, muito amor, muita doçura, muita compaixão.

Mas eu ainda observo as estrelas calmamente, ainda sei alguns dos seus nomes. Ainda choro com Bridget Jones e ainda quero sentar a minha alma fria perto da fogueira. E acreditar que todo o gelo irá derreter, e que cada gota me vai trazer tudo aquilo que me foi retirado.

Acreditar que Amor, não só tira, mas também dá. Acreditar que eu ainda tenho alguma parte em mim que não esfriou, acreditar que alguém seja capaz de ver isso.

Porque eu ainda quero! Eu ainda quero sentir o calor, ainda me quero importar, ainda quero um abraço e carinho. Eu ainda quero comprovar que há amores que nos salvam, e que mesmo depois de tanto nos tirar, ele também nos pode dar, não só tudo que nos roubou, como também tudo o que demos em vão.

E hoje eu sei, que nem tudo dá errado, que não estamos destinados a sofrer sempre, que ainda há pessoas que nos amam e merecem ser amadas. Sei que ainda há muito amor espalhado em mim, e que aos poucos eu vou aprender a dá-lo, sem medo de que seja em vão.

Porque se não sentarmos a alma ao pé da fogueira, e não sentirmos o seu calor, já mais saberemos qual a sensação do aconchego.

Assim é o amor. Assim é a vida, temos de colocar todo o medo de lado, todas as dores e mágoas. Voltar a arriscar, voltar a dar o melhor de nós, para que possamos também obter o melhor dos outros.

Sei que por vezes existem cicatrizes que o tempo não retira, mas também sei que pode existir alguém disposto a amar-nos com elas. Só temos de aceitar ser amados, aceitar que chegou a nossa hora de ser feliz, a hora de dar certo!

Eu aprendi a gostar de todas as minhas cicatrizes, aprendi que a vida não é sempre amarga, e que também há uma hora de dar certo para mim e eu aceitei!

Porque eu ainda quero amar, e ser amada.

Quero acordar de manhã a sorrir, e agradecer a mim, por ter arriscado.

Agradecer a ele, por ter arriscado comigo.

Por me mostrar que amar nem sempre dói, por me amar, por fazer de mim uma mulher feliz, menos amarga e repleta de amor.

Provando assim, que não é só um mito. Há mesmo um capítulo que termina com “E viveram felizes para sempre”.

Ana Cláudia Mendes

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