Seu coração é como uma casa bagunçada.

Imagine que você deu uma imensa festa em sua casa, ok? Você sorriu, se entregou, foi hospitaleira e deixou que entrassem em sua casa, em seu lar, em seu refúgio. Comeram de sua comida, beberam de sua bebida, repousaram em sua cama. A música acabou, o sol apareceu, a noite se foi. Todos foram embora. Você ficou. A sala está uma bagunça, os lençóis da cama sujos, o quintal um desastre. A casa bagunçada é como seu coração machucado. Existem duas opções:

Deixar assim e morrer soterrada pela dor, sujeira, as memórias acumuladas no canto da sala… Em alguns dias, o cheiro dele estará em tudo, até nas roupas limpas. As fotografias espalhadas pelas paredes serão como fantasmas responsáveis por assombrar seu presente. E tudo, minha cara, ficará pior. Você se queixará da falta de disposição e energia para mexer nas caixas de recordações, porque qualquer vacilo poderá derrubar seu coração numa cascata de histórias sobre vocês, sobre o quanto – em algum momento remoto do passado – foram felizes, de alguma forma. As pilhas e pilhas de lamentações, choros dobrados, soluços incontidos, arrependimentos e mágoas formarão um imenso muro que bloqueará as janelas de sua casa – você não verá mais o sol, nem sentirá o vento da tarde, o balouçar das folhas nas árvores, os galhos secos ao sol –, e não haverá como abrir a porta. Sem rota de fuga, sem condição de receber alguma visita de, sei lá, algum amigo prestativo que esteja disposto a ajudar com a limpeza.

(Ilustração da Sara Herranz)

Ou começar aos poucos, sem exigir demais de sua disponibilidade, afinal, há um coração fragilizado dentro de você. No entanto, é preciso arrumar o estrago, tampar os buracos nas paredes, remover as fotos, limpar a pia, jogar as roupas e o cheiro fora. E enquanto estiver focada em arrumar toda a sua vida, seu lar, reorganizar as defesas pessoais; alguns poucos amigos entenderão o quanto você precisará desse tempo de renovação, de buscar equilíbrio, de se fechar um pouco mesmo que não deseje a solidão. Raros serão os dispostos a levar o lixo para fora, junto contigo. A responsabilidade é sua, jamais esqueça. Toda a ajuda é bem-vinda, mas não espere que o outro limpe sua casa, tome as rédeas e determine o que fazer com todo o estrago deixado como herança. A casa é sua, amiga; limpe você.

É claro que precisamos pensar em alguns possíveis obstáculos, como você não saber varrer – o que nesse caso seria a sua suposta capacidade de curar o seu próprio coração. Não fique bolada. Não saber e não ser capaz são atribuições bastante distintas. Ninguém nasce com capacidades sentimentais específicas, como “ei, fulano é ótimo em assuntos sobre coração quebrado”. Você apenas nasce (ponto aí). Ao longo da vida desenvolverá (ou descobrirá) capacidades, habilidades, talentos, experiências, desastres. O fundamental é tentar, não desistir quando tudo parecer complicado demais. É preciso ter esperanças quando o assunto é amor. Pense comigo, ok? Você tem um coração, eu também, não acha um desperdício ter algo tão lindo, ser capaz de sorrir e não voltar a amar? Não é mesmo?

Pegue a vassoura, abra seu lar, jogue todo o lixo fora e limpe seu coração. Quem sabe trocar as certezas do lugar seja uma opção? Ou melhor, quem sabe você deveria ter novas certezas, quebrar padrões e apenas ser?

Sua alma é seu lar. Seu coração é seu refúgio. Cuide-se de dentro para fora – leve o tempo que precisar. Se a dificuldade apertar, grite por ajuda. Você jamais estará sozinha na jornada da vida.

Ah! Não esqueça das flores para enfeitar a alma.

Faah Bastos

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