O problema não é você, sou eu

 

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—O que nós fizemos de errado?
—O problema não é você, sou eu.
—Desde quando começou a existir um “eu” e o “nós” acabou?
—Não sei dizer ao certo.

Nem eu.
Não sei quantas vezes erramos e fizemos do nosso amor um jogo, uma guerra de egos.
Só sei que foi assim.
Não me lembro quem começou o que, só me lembro de seguir querendo competir.

Mas para ganhar o que?
Ainda não sei.
Só sei do que perdi nesse processo de briguinhas infantis.

Perdi meu melhor amigo.
Perdi o “nós”.
Perdi aquela cumplicidade tão bonita, de quando chegávamos bêbados e contávamos tudo um pro outro e ríamos até faltar o ar, até a barriga doer.

Mas me recordo do momento em que percebi que estávamos caminhando para a beirada do precipício.
Me recordo das vezes que recuei, que dei passos para trás, tentando puxar você comigo.
Mas você sempre gostou do perigo, sempre gostou de testar os limites, sempre achou que as brincadeiras não teriam consequências.

E aí você caiu.
Naquela queda, tentava agarrar meus braços para que eu te sustentasse e te puxasse de volta.
Mas eu já estava fraca.
Fraca e farta.
Das desculpas, de lutar sozinha por tanto tempo, de tentar te arrastar, antes que o precipício te engolisse.

Então você se foi e disse:
“O problema não é você, sou eu.”
Sim, você tinha toda a razão.
Você era o problema e eu não soube resolver.
Brincou conosco e não soube a hora de parar.
Usou o “eu” tantas vezes, que não existia mais espaço para o “nós” em sua vida.

Tudo acabou.
Tudo desmoronou.
Como em um jogo de cartas.

Grazielle Vieira

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