O gostar precisa ser demonstrado

O gostar precisa ser um exercício ativo de demonstração de afeto não importa se em pequenas ou grandes doses. Gostar é demonstrar afeto. Uma coisa que muita gente se esquece é de que nunca devemos assumir que o outro sabe que nós gostamos dele, nos importamos com ele verdadeiramente sem que precisemos demonstrar ou dizer com todas as letras.

Nesta realidade da febre dos Smartphones, computadores, iPads e cia, as pessoas estão desaprendendo a se comunicarem da forma mais fundamental, básica, que é o olhar nos olhos, ouvir como quem quer entender, se importar, tocar como quem quer fazer com que o outro se sinta querido, visto, bem vindo, vivo. Estamos perdendo o contato humano, substituindo-o pelo contato virtual.

Será que estamos com mais medo de parecermos vulneráveis? Estamos menos inclinados a interagir no real com as pessoas? O que está acontecendo conosco que o engajamento real está parecendo virar algo ameaçador? Por que estamos mais desconfiados?

É verdade que a todo tempo, com os Whatsapps da vida, as pessoas estão se comunicando constantemente, mas será mesmo que é um comunicar-se genuíno? A gente se fala, mas se sente pouco. A demonstração de sentimentos se transformou numa caricatura do uso dos emojis.

Os selfies são um grito que se dá para ser visto, mas qual é a nossa real inclinação para ver o outro com esta mesma ansiedade, urgência, nível de importância?

A comunicação ficou mais fácil e rápida, mas menos calorosa, menos pessoal, menos sensorial porque é virtual, não é palpável, real, física.

Hoje o eliminar alguém está ao alcance de um botão de excluir/deletar. O mostrar a apreciação/aceitação está num botão de curtir, uma imagem de um polegar para cima. É através de um toque num botão que uma pessoa entra ou sai das nossas vidas, assim, impessoal e rapidamente. Não queremos que ela nos importune mais? Bloqueia-se esta para todo o sempre.

O manipular das relações ficou como um jogo de xadrez. Se coloca ou se tira uma peça de acordo com as regras que estabelecemos. O mais “conveniente” então é que podemos fazer tudo isto gozando da “invisibilidade” que a tela do computador ou de um aparelho eletrônico oferece.

Não é preciso explicar, justificar, confrontar, só apertar o botão. O que a pessoa vai sentir ou não ficará à nossa revelia.

No Facebook há uma lista imensa de “amigos”, poucos os do peito mesmo, muitos amigos desconhecidos, amigos incomunicáveis, amigos que caíram de pára-quedas, que pediram para serem incluídos sem a intenção de se comunicarem, só observar pelo buraco da fechadura da página de alguém.

Queremos vê-los ali, mas quanto de esforço fazemos para achar um tempo para perguntar como ele está indo?

Acaba-se deixando o outro como um livro numa prateleira, mas ele acaba sendo mais um livro dentre muitos, mais um livro que vai ficar cheio de pó se a gente não der a atenção que ele merece.

As pessoas se comunicam com mais facilidade, agilidade, mas esta é uma comunicação que parece muito mais na superfície da água, fugaz, momentânea. Estamos mais falantes, mas conversando no fundamental sentido da palavra menos.

Estamos mais juntos, mas nos sentindo mais solitários. Estamos mais presentes na telinha do outro, mas mais ausentes em suas vidas reais.

A questão é que na comunicação, qualidade faz muito mais diferença do que quantidade. É a qualidade investida nos afetos que causa a maior transformação no outro, o maior impacto, tem um efeito mais duradouro.

Precisamos nos encontrar mais no real, conversar mais olho no olho, abraçar mais, rir mais, falar que a gente gosta do outro com todas as letras, na maior frequência possível. As relações estão precisando de uma injeção de ânimo afetivo. Vamos falar gosto de você para as nossas mães, nossos pais, irmãos, irmãs, amigos, amigas, namorados, namoradas.

Vamos cumprimentar as pessoas nas ruas, vamos fazer uma gentileza, vamos enxergar o outro com interesse. Se tomamos a presença destas pessoas sempre por certo, como se elas fossem estar sempre ali, disponíveis, dedicadas, parte já estrutural das nossas vidas, nunca realmente aprenderemos a dar o valor, a atenção e o amor que merecem e que recebemos delas sem mal nos darmos conta, muitas vezes.

Estamos sempre perseguindo aquele que ainda não foi conquistado e se esquecendo que os “já conquistados” são importantes, são fundamentais, são muitas vezes aqueles “anônimos” que sustentam nosso edifício emocional inteiro.

Dentro ou fora de casa, estamos tão colados na tela onde estão os amigos no virtual, que ignoramos completamente os que estão ali ao lado, no real, talvez querendo tanto que olhemos para eles. Parece que aquele real ao lado virou o grande incômodo, que está nos “atrapalhando” na nossa tentativa de nos concentrar naquele que acabou de enviar um texto.

O da tela ficou mais urgente que o da vida real. Será que o mundo real ficou tão desinteressante assim? Tão sem graça? Tão irritante, sem sabor, sem cor, sem movimento, sem qualidades, sem fascínio??? Ficamos desesperados para colocar nossa opinião numa postagem do Instagram, mas nos irritamos quando “temos” que trocar uma conversa com alguém ali no calor do momento real.

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Há tanta gente mundo afora que vive na invisibilidade humana. Tanta gente que passa todos os dias ao nosso lado nas avenidas, nos pontos de ônibus, nas plataformas do metrô, nas filas do supermercado, os que trabalham em todos os tipos de atividades, os que moram nas ruas… pessoas que estão, de repente, precisando só de um olhar, um sorriso, uma palavra endereçada de afeto para se sentirem existindo, pertencendo.

Demostrar um gesto de afeto custa tão pouco e pode causar uma revolução na vida interna de alguém. Nunca devemos subestimar nossa capacidade de amar e de fazer alguém feliz. E isto pode ser feito nos gestos mais simples. Não precisa de nenhuma sofisticação, só a intenção real de se importar em fazer o outro se sentir gostado, apreciado, visto na essência da sua condição humana.

Se todos os dias exercitarmos a demonstração de afeto para pelo menos uma pessoa que passe por nós, será uma semente plantada de humanidade a mais para fortalecer este mundo de um amor que é tão essencial. Que maravilhoso então quando se causa uma reação em cadeia!!! Quando um afeto demonstrado se tornar um afeto multiplicado. Isto sim precisa virar moda: o exercício do demonstrar o gostar genuinamente do outro.

Nas minhas idas à faculdade, uma professora muito querida sempre nos contava esta estória que acho muito reveladora, significativa, e ilustra tão bem a fundamental importância de doar-se em afeto e reconhecer o valor de um gesto assim naquele que o demonstra e naquele que o recebe de uma forma ativa, seja de que jeito for e com quem for:

“Todos os dias, um rapaz costumava correr ao longo da praia e todos os dias avistava uma senhora jogando de volta para o mar as estrelas que ficavam presas na areia. Intrigado com a atitude dela, um dia o rapaz resolveu se aproximar da senhora. Observando a quantidade imensa de estrelas que ficavam presas na areia, perguntou para a senhora se esta não achava inútil tentar salvá-las, já que não poderia salvar a todas. Então a senhora respondeu assim:

“Meu rapaz, pergunte para aquela que acabei de salvar se o que faço é inútil.”

Algo para se pensar sempre!

Vamos lá, vamos demonstrar afeto todos os dias, mas afeto de verdade, de carne e osso, sentindo lá no fundo, num importar-se genuíno.

Vamos, sim, dizer com todas as letras que gostamos do outro, que apreciamos o que ele faz, vamos elogiar mais e criticar menos, vamos investir muito mais no positivo nas relações, vamos olhar os olhos como quem quer aprender com o outro, partilhar o viver com o outro, porque a experiência humana é universal, assim como o gostar de ser gostado.

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