O amor é uma droga

O álcool fica na corrente sanguínea entre dez e doze horas. Você sai com os amigos para beber, e em um certo momento tudo fica mais engraçado, interessante, excitante. As pessoas “mais ou menos” se tornam mais e todos os problemas da vida se tornam menos. Em algumas horas a pessoa começa a tomar consciência que nem tudo é tão engraçado, nem interessante, tampouco excitante. Doze horas depois…ressaca. Do corpo e da alma.

A morfina fica no sangue entre seis e oito horas. É recomendada em momentos de dor extrema. Quando nada mais resolve, nenhum outro remédio fez efeito. É um alívio imediato, um entorpecer delicioso que tira não somente a dor, mas os pés do chão. É como se a alma flutuasse acima do corpo, se desligando de todo sofrimento. É usada para as dores do corpo, mas também alivia as dores da alma…temporariamente. Às vezes a dor volta pior do que antes.

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O amor… não sei dizer quanto tempo fica no sangue. Afinal, não há nenhum exame para detectar se há amor no seu organismo, correndo nas suas veias, batendo dentro do coração. Quanto tempo seria necessário para limpar seu organismo antes de receber outra dose? De outro alguém? Existe amor certo para cada tipo de pessoa? Para quem é recomendado, quais são os efeitos colaterais, os riscos e quando ele é indicado ou contra indicado?

O amor é uma droga como todas as outras. Mas muitas vezes não é opção. Então talvez o amor seja algo como um vírus contagioso. É complicado porque não há explicação para ele de forma definitiva. Para alguns dói e destrói, para outros acalenta e constrói.

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E me diga: quem vai sair por aí experimentando drogas cuja bula não existe? Quem, em sã consciência vai deixar entrar no corpo algo que pode ser turbulento, caótico, bagunçar todas as certezas, varrer toda segurança e jorrar pontos de interrogação, incertezas?

Não existe uma dose certa, no meu caso, temo dizer que tomei uma overdose. Porque sou exagerada e intensa. Não soube bebericar do amor, não consegui esperar esfriar um pouquinho, tomei goles generosos e quentes demais. Até a última gota.
Sei que os efeitos são irreversíveis, pois meu corpo está tomado, possuído, inundado. O amor vibra dentro de mim, grita a plenos pulmões, transborda.

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Às vezes ele é olhos nos olhos e corações em sincronia, batendo em conjunto, despreocupados e imersos em um mundo particular. É calmaria, respiração profunda, enchendo o pulmão do cheiro dos seus cabelos, preenchendo a alma com o calor das suas palavras doces, suaves, murmuradas, guardadas no fundo da minha cabeça.

Às vezes ele é cantar em uníssono, andar de mãos dadas, felicidade de abrir os olhos todos os dias e te ver a centímetros de distância, tangível e acessível.

Às vezes é amargo, uma explosão de dúvidas borbulhantes. Falta o ar, sufoca, aperta o peito e faz o coração disparar em pânico. “E se um dia você não estiver mais aqui? E se um dia você escolher outro coração com uma batida diferente, olhos mais calmos e sorrisos mais fáceis? E se um dia outros dedos entrelaçarem os seus, como é que eu fico? Faço o que com esse amor que carrego?”

Eu não sei onde é que começa e onde termina, mas sei que é em seu peito que quero repousar minha cabeça no final do dia. Todos os dias que me restam. Sei que é o seu sorriso que eu preciso ver todos os dias. Seu sorriso bobo, fácil, que eu conheço de cór.

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Seus lábios se curvam primeiro do lado esquerdo. E é tão lindo, tão inocente, tão espontâneo, necessário.
Sei que não temos garantia de nada nessa vida, e nem controle, e como isso é difícil. Se eu soubesse quanto tempo tenho com você faria questão de te escrever todos os dias, de despejar meu amor em você todos os segundos, de respirar do mesmo ar, beber do mesmo copo. Mas na nossa mania de negar a finitude da vida, vamos deixando tudo para outro dia, outra hora.

O amor não pode ser procrastinado. O amor não pode ser negligenciado, não pode ser amanhã. Tem que ser hoje e agora.

Tem que ser, porque ele não espera, é urgente, é prioridade. É mandatário.

O amor é uma droga. Droga que acelera o coração, excita, alegra, traz felicidade, entrega uma porção de coisas boas. O amor é uma droga que causa dependência, é um vício maldito, é uma droga que causa abstinência como nenhuma outra.
Mas além disso, e muito mais importante, o mesmo amor que fere também cura.

Faz cessar o pesar, enxuga lágrimas e alivia o peso dos ombros. Tira dor nas costas, entorpece a alma, silencia o pranto e amplifica o canto dos passarinhos.
De todas as drogas que existem, o amor é a única que todos nós devemos experimentar ao menos uma vez na vida.

Thais Moreno

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