Não se reconstrói pessoas, talvez nem sentimentos… Não se reconquista aquilo que se perdeu.

Essas palavras podem soar carregadas de amor e boas intenções por parte de quem as pronunciam, mas honestamente, alcançam o lado do “FIM” quase que como uma provocação. Cada pequeno gesto bonito e fora de contexto já não vale nada, tem efeito contrário.

É quando por muito tempo, às vezes por anos, você sinaliza com fumaça, bandeirolas, cartazes, passeatas, choros copiosos, declarações explícitas em palavras e comportamentos que não, não está bom para você. E se coloca a disposição para se moldar, mudar, entender, subir ou descer o nível, o que for necessário para que as coisas apenas permaneçam não como estão, mas como poderiam ficar se houvesse conserto.

Quando uma rachadura aparece, não é preciso derrubar a parede. Sempre há conserto. Mas se você ignora o problema achando que não é nada demais, a rachadura vai aumentar todos os dias um pouco mais, até chegar ao ponto em que a parede pode cair. Tudo bem, você sempre pode reerguer uma parede. Se for uma parede estrutural, talvez a casa toda caia. Tudo bem, você pode reconstruir uma casa. Se a casa soterrar as pessoas que vivem nela, bem… você não pode reconstruir pessoas…

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Não se reconstrói pessoas e creio, não se reconstrói sentimentos nem se reconquista aquilo que se perdeu. O que se perdeu acabou, fim, o vaso quebrou e para sempre será um vaso com rachaduras. Há quem não se importe, quem conserve aquela velha xícara com a asa quebrada e colada, que coloque no centro da mesa o vaso todo colado com aquelas marcas eternas de algo que já não existe mais e agora transformou-se em uma outra coisa, uma remendada, que faz parecer o que já não é.

Quando eu ouço e vejo ações traduzidas no “vou reconquistar você” não consigo deixar de pensar que a conquista é diária. Todos os dias, naquelas coisas mínimas que você deixa de fazer, reconhecer, sentir, você perde e deixa ir. Reconquistamos aquilo que se perdeu e existem pessoas que tendo, por muito tempo, anunciado um fim, quando o veem chegar, querem apenas um recomeço. Um que seja novo. Nada de vasos colados ou casas reconstruídas sobre as ruínas anteriores.

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Por isso a mim soa quase como um insulto as palavras e ações de reconquista. Depois das paredes rachadas, desmoronadas, eu me sinto como uma sobrevivente soterrada e tudo aquilo que esperei por toda a trajetória até ali, em sinais de conquistas diárias, agora tem efeito nulo sendo usado como reconquista.

Eu quero apenas me limpar do pó daquelas ruínas, levantar e seguir adiante. O tempo é outro, outras necessidades, outra sintonia. Como sempre foi, na realidade. Quando você diz “estou indo” e o outro lado faz ouvido de mercador, a sintonia já era outra, o ritmo já era outro. Quando o outro te diz “estou aqui” e você cego, nem nota, as paredes racham. Caem. Derrubam a casa. Soterram as pessoas. Os sentimentos.

Não se reconstrói pessoas. E eu não consigo reconstruir sentimentos. Estou sempre caminhando, às vezes mais lentamente, às vezes correndo, mas em frente, nunca para trás. Pode ser orgulho, amor próprio, eu sei lá e, olhe que nem sou das pessoas que mais exercitam o amor próprio na vida. É que eu gosto de ser conquistada, diariamente, para sempre tapar as rachaduras que fatalmente surgirão, sem nunca deixar nada ruir.

Luciana Marques

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