Não precisávamos ser perfeitos para sermos felizes.

Foto em preto e branco de casal segurando as mãos

Eu estive pensando em como começar este e-mail sem parecer que estou perdida no mundo. Bem, é certo que tenho deixado alguns assuntos importantes de lado, adiando decisões necessárias e acumulando dias estranhos. Mas não posso resumir o tempo em evitar você, não é mesmo? E talvez aqui esteja o motivo deste e-mail: é complicado evitar você. Eu tenho falhado na decisão de afastar qualquer pensamento que me leve até o passado, principalmente nos dias chuvosos ou quando o silêncio se desdobra sobre a cama. Confesso que a ausência de palavras sentimentais e responsáveis pelos nossos suspiros tiraram férias prolongadas de nós, assim como a cumplicidade do toque, as ligações inesperadas no meio da madrugada…

O que sobrou? Recorrer as teclas gastas do meu computador para dizer o quanto a saudade de você tem causado um desgaste emocional desnecessário em mim. É certo alegar em sua defesa que resolvemos manter uma comunicação saudável entre nós; Ainda perguntamos aos nossos amigos sobre como estamos lidando com a distância, o término, as novas escolhas. Mas você dirá que é apenas cuidado, uma forma de limpar a consciência sobre os danos sentimentais causados. Eu fico aqui tentando lidar com a saudade constante – um raio perfeito de energia que ao alcançar seu ponto final, permanece emitindo ainda mais energia.

Compreende agora a dimensão do meu transtorno? Se o senhor tivesse a mínima ideia do estrago que tenho causado na vida (ou a vida causando em mim), certamente cogitaria a possibilidade de ceder seu colo e perguntar como tem sido os dias sem você. E eu diria. Sim, eu diria. [veja também: 190 Perguntas Íntimas e Profundas para fazer à sua Namorada]

Eu contaria todas as tormentas, os dias estranhos no piloto automático, as reuniões com os amigos que insistem em saber se estou bem depois de você, as mensagens românticas no Facebook que evito olhar, ou os filmes e as músicas que falam sobre nós. Afinal, sou dessas mulheres espaçosas que não sabem bem ao certo a quantidade exata de centímetros que posso ocupar na vida de alguém (e, talvez, só talvez, você goste de ainda ter tanto de mim em você).

Alguns dirão que estou sendo fraca. Pois talvez eu esteja, só que aprendi com o tempo que silenciar vontades não ajuda em nada. Sim, eu contarei todos os meus medos, aflições e receios, porque mesmo após o fim, espero sinceridade entre nós.

Estou cansada. Estou cansada e parece que os pés se recusam a continuar. Não sei ao certo o que fazer. Andar sem você não me parece uma solução, é como se eu estivesse abdicando meu direito de seguir feliz. Afinal, tenho quase certeza que ao sair da minha casa você levou um punhado de mim em suas malas.

Seria como deixar a estrada me esperando enquanto paro e descanso, recolho as migalhas, as partículas sobre nós, alinho meus pensamentos e engulo aquele maldito nó de angústia e receio instalado no centro de minha garganta. Agora resido aqui, exatamente aqui – lugar estranho que não consigo definir, mas é unicamente aqui.

Talvez seja um limbo sentimental e romântico, o lugar para onde as almas que ainda não sabem lidar com o fim permanecem enquanto se curam. Às vezes, em noites claras e curiosas, me pergunto se de onde exatamente estou posso ver as estrelas. [veja também: 6 Razões pelas quais os Casais Que Se Abraçam São os Mais Felizes]

Eu não sei o que estou fazendo com a minha vida. Dizem que é normal, uma fase esperada e passageira que assola à todos que tiveram o coração partido. O problema, meu caro, é não saber exatamente o que se quebrou em mim quando você se foi.

Contudo, deixe-me tranquilizar um pouco seu coração: nem de tortura, quedas e feridas tenho vivido. Sabia que tenho lido mais do que antes? É como se eu pudesse encontrar você em cada anti herói, no bandido sentimental, nas escolhas frustradas, nas lágrimas da mocinha.

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Ah, pois… eu sempre soube de sua bravura, mas você está ciente da minha? Quero dizer, você tem conhecimento de minha coragem, astúcia e capacidade de seguir? Eu tenho quase certeza que você também encontra vestígios de mim ao longo de seu dia; você jamais me soltou de vez, não é mesmo? É como se de alguma forma, possamos ainda manter nossas respirações em constante sintonia.

Talvez eu esteja ficando louca – dizem que a saudade pode nos causar grandes desequilíbrios. Há dias em que imagino você esparramado em meu sofá, ocupando um espaço muito maior do que a minha sala; lendo minhas palavras, minhas declarações ou contando casos tolos do cotidiano, e seus lábios desenhando aquele sorriso responsável pelo quebrar de ondas em meu coração, criar borboletas, expulsar o cinza das nuvens. Meu amor, você ainda tem um dom.

Com o somar do tempo, compreendi que nosso amor segue fornecendo subsídios diários suficientes para curar algumas feridas – são como monstros esperando um deslizar qualquer. Todavia, mantenho-me firme, sustentando um dia de cada vez. E mesmo com sua partida forçada, você tem cuidado de mim ao manter cada memória sobre nós ainda viva, pulsando segura.

Um dia, você me disse que “Deus sabia exatamente o que fazia quando criou você”; hoje, depois de toda a dor suportada e vencida em doses silenciosas, posso dizer que Ele sabia muito bem o que fazia quando nos juntou. Fomos, ao mesmo tempo, criaturas românticas tropeçando na linha da vida em busca do amor perfeito. E talvez tenhamos errado ao achar que precisávamos ser perfeitos para sermos felizes.

Se eu pudesse, voltaria a ler contigo, dançar juntinho, assistir série, compartilhar bobagens entre risadas estranhas. Só que precisamos respeitar o fim, a distância, o espaço em branco que se criou entre o que éramos e o que nos tornamos. Lançaria um convite inusitado para uma viagem sem destino definido – apenas ir e deixar que o tempo fosse capaz de colar os retalhos em nossa história. É a saudade escrevendo por mim, desculpe-me.

Eu sinto mesmo é falta do “nós”.

Por fim, como vai você?

Faah Bastos

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