Fidelidade não é um contrato

Hoje em dia existe um manual de instruções para todos os aspectos da vida, e as pessoas já nem se dão conta de que não tomam as decisões por si, mas o fazem seguindo o manual, seguindo o fluxo das convenções. E sempre achando que estão seguindo suas próprias ideias, seus anseios, quando, na verdade, estão tomando as suas decisões tanto quanto um lemingue toma a sua decisão de se jogar do precipício junto com os outros lemingues.

São pessoas de esquerda que pensam “no social” para seguir a doutrina, são pessoas de direita que são contra o aborto “porque a direita pensa assim”, são meninas que se mantém virgens mas fazem todo o resto porque “precisam se preservar para o casamento”. São ratos de laboratórios correndo atrás da comida quando veem a luz piscar, com a diferença que nós, humanos, achamos que controlamos a luz que pisca. Mas não controlamos. Ela nos controla.

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É o sujeito que não tem o menor respeito pela pessoa com quem ele está porque “não temos um relacionamento formalizado”. Nos relacionamentos então, essa característica é bem mais evidente. “Se não estiver namorando oficialmente não é traição”. “Se não combinaram de não ficar com outras pessoas, não é traição”. Traição com quem? Com a Entidade Superior dos relacionamentos que dita que até o momento do “quer namorar comigo” vale tudo? Bom, vale tudo se o casal quer que valha tudo. Vale tudo se as pessoas estiverem sendo honestas com elas e com as outras. Não vale tudo se isso não passar de um “brecha na lei”, o famoso “we were on a break!”, do Ross, em Friends.

Não é traição ficar com uma pessoa estando apaixonado por outra, só porque ainda não há nada “formal”? você não está traindo seus sentimentos, a confiança do outro? O Chico Anysio disse uma coisa em uma entrevista no programa Roda Viva que eu vou levar comigo para sempre. “Eu sou fiel a partir do momento em que me apaixono”. Não é uma convenção. Não é um anel no dedo, nem um pedido de namoro de joelhos ao som de Wando. É ser fiel a você mesmo, ao que você sente, ao que a outra pessoa representa pra você.

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Não estou aqui tentando subverter nada, nem atentar contra os relacionamentos. Sou um fã irrepreensível deles e sempre serei, mas me incomoda essa linha imaginária traçada entre o que pode e o que não pode, só por conta de um papel assinado ou de um “namora comigo” em um bilhetinho dentro de um churros de doce de leite. Você não começa a namorar ou se casa para obter exclusividade, muito menos para poder COBRAR exclusividade. A fidelidade não se dá a um papel ou a um acordo, mas a um sentimento, a uma pessoa. Quem é fiel a um papel ou a um acordo é como um cristão que só é bom por medo da punição divina: não passa de um cão adestrado. Não é fiel por amor, mas por “respeito” a um contrato. E quem quer alguém que trata um relacionamento como um contrato de compra e venda de um apartamento?

Léo Luz

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